domingo, 9 de novembro de 2008

MEU TIPO INESQUECÍVEL

Sempre que ia passar férias na fazenda, lá estava ele, sentado no fogão de lenha, com seu cigarro de palha na boca. Conhecido como Antonio do Zecá Vaz, havia tido 12 filhos um morreu lá pelos seus 20 anos, se chamava Raimundo ou tio Raimundo. Seu Antonio do Zecá Vaz, que carinhosamente chamávamos de vovô, foi uma das pessoas criadas na terra que viveu para plantar e colher os frutos que ela oferecia. Vovô, que sempre gostou muito de tirar leite, montar a cavalo e tudo que se possa imaginar que um fazendeiro de raiz faz.
Adorava fumar um pito de palha e contar histórias da época da ditadura. Sempre contente da vida, falava das viagens que tinha feito, cariando nas estradas de terra até Jeceaba para vender capado e açúcar. Vovô era do tipo de pessoa que vivia rodeado de amigos. Nas noites frias da fazenda, sempre gostou de jogar baralho. De manhã, quando o galo nem tinha cantado, lá estava ele com o balde e uma tira de corda, para tirar o leite das vacas. Eu, que adorava observar, ficava atento em cada detalhe do que ele fazia.

E como Vovô gostava de comer, adorava um leite com angu depois do almoço, é claro que, depois da barriga cheia, ele preparava o canivete para fazer um bom pito de palha. O tempo passou e sempre que voltava lá, Vovô estava sempre com aquela carinha boa e sorridente. Mas há o momento em que a vida chama a gente; assim, Vovô foi se entregar aos braços de Deus. Morreu aos 97 anos e uma frase que não saiu da minha cabeça, no momento do velório, foi o que disse meu tio: “Foi-se um homem. Ficou-se um nome”.

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